Diretor da Petrobras é suspeito de “fabricar” greve

William França, diretor da Petrobras, é investigado por artimanha que visava impulsionar acordo com potencial prejuízo milionário

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Diretor da Petrobras é suspeito de “fabricar” greve
O diretor William França (com uma seta em cima de si) em reunião de dirigentes da Petrobras com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agosto de 2023 Foto: Reprodução

Em uma revelação surpreendente feita pelo jornal O Globo, William França, alto executivo da Petrobras encarregado de um contrato com possíveis consequências financeiras adversas para a companhia, avaliadas em quase meio bilhão de reais, teria considerado a possibilidade de instigar uma paralisação nas unidades de fertilizantes da petroquímica. O objetivo seria pressionar pela concretização do negócio, apontando para a necessidade urgente do mesmo.

O contrato em questão, celebrado com a Unigel, que detém o arrendamento das unidades produtoras de fertilizantes da estatal, previa que a Petrobras se encarregaria do fornecimento de gás natural necessário à Unigel. Posteriormente, a estatal comercializaria os fertilizantes produzidos, com a expectativa de ser compensada financeiramente pelos resultados da operação. Entretanto, o Tribunal de Contas da União (TCU) levantou questões sobre a viabilidade do acordo, indicando um potencial prejuízo na ordem de R$ 500 milhões.

Investigações internas da Petrobras buscam esclarecer se França realmente tentou orquestrar uma greve nas unidades em questão, como estratégia para justificar a assinatura do contrato. Em mensagens trocadas através do Microsoft Teams, o diretor sugeriu a necessidade de "fabricar" uma greve para evidenciar a importância do acordo, sob o risco de encerramento das fábricas e subsequente mobilização sindical e grevista na empresa.

França, que ocupa o cargo de diretor-executivo de Processos Industriais e preside o conselho de administração da Transpetro, viu-se no centro de uma sindicância interna aberta pela Petrobras. Isso ocorreu após o canal de compliance da empresa receber denúncias sobre pressões exercidas para a finalização do contrato, apesar dos alertas da área técnica sobre o risco de prejuízos.

O acordo, avaliado em R$ 759,2 milhões, abrange as unidades de Camaçari, na Bahia, e Laranjeiras, em Sergipe. Firmado em 29 de dezembro de 2023, o contrato de tolling (industrialização por encomenda) assegurou a retomada das operações das fábricas de fertilizantes, que estão sob arrendamento pela Unigel.

A análise do TCU e de técnicos da Petrobras sugere que a iniciativa acarretaria um prejuízo de R$ 487 milhões em oito meses, motivado pela disparidade entre os custos crescentes do gás natural e a depreciação dos preços dos fertilizantes. O ministro do TCU, Benjamin Zymler, concluiu que França contornou os procedimentos de governança da estatal ao firmar o contrato sem o devido endosso das instâncias superiores, rejeitando a justificativa de que o modelo de contrato adotado seria uma medida preventiva contra possíveis greves decorrentes de demissões anunciadas pela Unigel.

Em resposta às alegações, a Petrobras emitiu uma nota ao Poder360, assegurando que o contrato respeitou todas as etapas de aprovação e validação exigidas, negando quaisquer irregularidades. A empresa também esclareceu que França nunca ocupou cargo de liderança na Federação Única dos Petroleiros (FUP), contrariando informações divulgadas. Com mais de três décadas de serviço na Petrobras, França possui uma trajetória marcada por diversas posições gerenciais no setor de refino.

A estatal reitera que o contrato com a Unigel, de natureza provisória, representa a melhor solução encontrada diante do cenário atual e dos riscos envolvidos, visando a continuidade das operações nas plantas situadas em Sergipe e na Bahia por um período de oito meses, sem previsão de prorrogação. Este arranjo temporário busca, durante sua vigência, desenvolver um modelo de negócio sustentável para as instalações.